Com pouco dinheiro, quem ganha bolsa família dá o dobro de calote, diz BC
Ganhando pouco dinheiro, beneficiários do Bolsa Família
enfrentam dificuldades para pagar as suas contas e possuem, em média, o dobro
das dívidas atrasadas em relação à média de outras pessoas de baixa renda.
Dados do Banco
Central mostram que a taxa de inadimplência entre beneficiários do programa foi
de 6,1% em 2017. Para os demais integrantes do Cadastro Único para Programas
Sociais, esse percentual foi de 3% no ano passado. Na média de todos os
incluídos no cadastro único, essa taxa foi de 3,8% em 2017. O cadastro reúne
pessoas de baixa renda (até três salários mínimos somando toda a família).
Os dados constam do Relatório de Economia Bancária divulgado
nesta terça-feira (12) pelo Banco Central. Segundo a autoridade monetária, são
considerados inadimplentes os clientes que possuem alguma parcela em atraso por
mais de 90 dias.
Baixo nível de renda impacta taxa de inadimplência
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos
Viana, disse que a taxa de inadimplência entre beneficiários do Bolsa Família
resulta de um novo cruzamento de dados e que esse ainda é "um primeiro
olhar sobre essa questão".
"É um fenômeno
importante para entender o tema da educação financeira e do acesso ao
crédito", disse.
Ele afirmou que, provavelmente, o fenômeno está associado ao
nível de renda da população que integra o Bolsa Família. Geralmente, mesmo
dentro do Cadastro Único, que traz um registro das pessoas de baixa renda, os
beneficiários do programa possuem uma renda menor e, justamente por isso,
recebem a bolsa.
O Bolsa Família atende famílias em situação de pobreza ou
extrema pobreza, caracterizadas pela renda familiar mensal per capita de até R$
85 e R$ 170. No início do mês, o governo anunciou um reajuste 5,67% na bolsa.
Crédito para a população de baixa renda é mais caro
Na avaliação da economista Marianne Hanson, da Confederação
Nacional do Comércio (CNC), o nível elevado de inadimplência entre os
beneficiários do Bolsa Família pode estar relacionado à renda e ao emprego
dessa população.
"Na nossa pesquisa de endividamento, geralmente, as
pessoas com renda mais baixa enfrentam mais dificuldades para pagar as contas
em dia", disse. "Quanto menor a renda, maior a dificuldade para
absorver um choque, que pode ser a alta no preço do botijão de gás", afirmou.
Marianne disse ainda que outro problema enfrentado pelos
beneficiários do programa é o acesso ao crédito mais caro, o que também
contribui para que eles se tornem inadimplentes.
"As famílias com menor renda têm acesso ao crédito mais
caro, de curto prazo, como o cheque especial e o rotativo, e vão ter mais
dificuldades para renegociar esses contratos", disse.
Devedores entram num círculo vicioso
Os consumidores que entram na lista da inadimplência podem
enfrentar outras consequências negativas. Marianne afirmou que, depois de
entrar nessa lista, elas podem ficar com o "nome sujo", isto é, com o
nome em cadastros "negativos" de crédito.
"Ao entrar em um cadastro negativo, o inadimplente tem
acesso negado a novos empréstimos e financiamentos", disse.
10% dos beneficiários do Bolsa Família têm empréstimos
De acordo com o relatório, 2.284 ou 10,2% dos beneficiários
do Bolsa Família que possuem acesso ao crédito tinham empréstimos feitos no
fechamento de 2017. O fato de haver empréstimos não significa que
estejam atrasados, são apenas contas a pagar.
O levantamento mostra que esse percentual vem caindo desde
2013, quando estava em 15,9%. Os dados consideram as pessoas que fizeram empréstimos
superiores a R$ 1.000.
Veja o percentual de beneficiários do programa que tinham
empréstimos em cada ano:
Para a economista Marianne Hanson, essa redução no
percentual de famílias do Bolsa Família com empréstimos reflete a recessão
econômica vivida no Brasil.
"As famílias tiveram mais dificuldades para contratar
empréstimos durante a crise. As instituições financeiras ficaram mais
restritivas ao selecionar para quem vão conceder crédito", afirmou.
Com pouco dinheiro, quem ganha bolsa família dá o dobro de calote, diz BC
Reviewed by Alexandre Meireles
on
junho 13, 2018
Rating:

Nenhum comentário